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Soteropolitana e turismóloga. Escrevo sobre viagens da forma que considero justa, sem maquiagem, e acredito nas palavras que caracterizam o turismo como um "instrumento de paz, bem-estar e entendimento entre os povos".

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Cinco Terras encantadas



Pense nas casinhas coloridas do Pelourinho amontoadas em um morro sobre o mar. Ou numa favelinha bem cuidada e colorida a beira-mar. Essa comparação um tanto rústica é mais ou menos a ideia que se tem da paisagem da linda região de Cinque Terre (Cinco Terras), no norte da Itália. As Cinque Terre são cinco povoados pequeníssimos no litoral da Liguria: Riomaggiore, Manarola, Corniglia, Vernazza e Monterosso al Mare.

O transporte entre eles é realizado por meio de trens com horários frequentes, mas a melhor opção é visitá-los a pé, tomando as trilhas que os conectam. A mais fácil e rápida é a Via dell'Amore, lindo caminho construído sobre os rochedos que liga, em aproximadamente 20 minutos, Riomaggiore a Manarola. Os outros povoados são ligados pelo Sentiero Azzuro (Trilha Azul).

Manarola, a mais romântica das Cinque Terre (e minha favorita), é cercada de terraços com vinhedos. É possível caminhar pela trilha entre eles para observar o povoado do alto. O ângulo mais bonito para apreciar Manarola, entretanto, é do caminho que contorna o mar (que vai dar no Sentiero Azzuro). Dali se tiram as fotos de cartão-postal do vilarejo. O local também é perfeito para um belo pôr-do-sol e uma noite de lua cheia.

Passear pelo caminho que contorna o mar em Riomaggiore também rende belas vistas. Esta vila é maior e mais movimentada que Manarola. Caminhar por suas ruelas estreitas vale a pena, mas prepare-se para as subidas e escadarias. Conheça a praça da igrejinha e o pequeno castelo. Descer as escadas do lado oposto até chegar ao caminho que dá para o mar é uma aventura interessante para entender a estrutura dos povoados de Cinque Terre.

Vernazza é mais bonita vista do alto, do início da trilha que vai até Monterosso, ou sob os ângulos do Castelo Doria. Esta vila é mais agitada que as outras duas, pois possui uma minúscula faixa de areia cinza que faz a alegria dos turistas que – ao contrário de nós, baianos - não estão acostumados com belas praias. Quem procura vida noturna pode se hospedar ali. Não deixe de comer no restaurante Belforte, no alto, com vistas incríveis para o mar e os rochedos (em alta temporada, não se esqueça de fazer reserva).

Corniglia e Monterosso al Mare são, a meu ver, as menos interessantes das Cinque Terre. Em Corniglia, não vi nada especial e, para acessá-la, é preciso subir uma escadaria gigante por aproximadamente 20 minutos (a outra opção é pegar o ônibus, mas ele não circula com frequência).

Monterosso difere do padrão dos outros vilarejos, por ser mais plano. A atração local é a praia ampla. Por essa razão, esta é a vila mais badalada das Cinque Terre. Monterosso não deixa de ser bonita e o banho é uma delícia, mas não tem nada de extraordinário. No entanto, aconselho a visita a este povoado, porque, depois de um tempo fazendo trilha debaixo de sol, com vontade de se atirar naquele mar maravilhoso, você se alegrará ao ver finalmente uma praia de verdade.

Cinque Terre é o tipo de lugar para ser contemplado. Quem vai até lá deve entender que seu valor não está nas praias, mas nas paisagens, na estrutura e naquela arquitetura confusa e encantadora que só a Itália tem.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Monteriggioni - Festa Medievale




O pacato vilarejo de Monteriggioni, a apenas 25 minutos de Siena, se transforma completamente durante os dois primeiros finais de semana de julho. Nesse período, acontece ali uma incrível festa medieval, intitulada "Monteriggioni di Torri si Corona".

O cenário é perfeito: o povoado, pequeníssimo, é um antigo burgo medieval muito charmoso, cercado por muros, como um castelo. É possível caminhar sobre alguns trechos dos muros e visitar o Museo dell'Armatura, que conta um pouco da história do vilarejo e diverte os turistas com as armaduras que podem ser experimentadas. Em Monteriggioni, não é preciso nenhum esforço para fazer com que o visitante se sinta na Idade Média.

A festa é um espetáculo! Começa ao cair da tarde e termina à meia-noite. O objetivo é fazer com que todos se adequem à proposta medieval, portanto o visitante deve trocar euros pela moeda antiga local, o "Grosso" (simbólica, usada somente durante a festa). As áreas verdes se transformam em "restaurantes" à la Idade Média, com grandes mesas e iluminação com velas, e é inevitável usar as mãos e dentes para cortar as carnes do churrasco - uma aventura e tanto! Para beber, sangria, vinho, dentre outras bebidas servidas em canecas de cerâmica. Pelas ruas, as barracas vendem desde produtos típicos - como licores e quitutes - a instrumentos musicais antigos. O belo artesanato de Monteriggioni encanta os turistas.

A programação da festa é variada. Os habitantes de Monteriggioni e dos arredores, com suas vestes de época, dançam e realizam coreografias com bandeiras, duelos e lutas entre cavaleiros. Alguns personagens "assustadores" divertem os transeuntes na chamada Via dell'Inferno, enquanto a banda local passeia pelo povoado tocando música folclórica (com flautas, tambores, antigas gaitas de foles e oboés). Além disso, é possível participar de jogos, assistir a uma encenação e a artistas que realizam números com fogo. Um belo show pirotécnico encerra a festa com chave de ouro.

Esta jóia é apreciada, principalmente, por italianos que moram na região. Devido à falta de opção de horários de transporte (e ausência de táxis), não é uma festa repleta de estrangeiros e nem é um evento de turismo de massa (ainda bem!). Se você estiver na região no período desses dois fins de semana, não deixe de passar uma noite imperdível nesse lugarzinho escondido na Toscana.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Toscana e Úmbria


Viajar pelo interior da Toscana é encantar-se a cada minuto. Os vinhedos, os girassóis do verão e as pequenas cidades e povoados medievais toscanos são o retrato da beleza e tranquilidade.  


San Gimignano é graciosíssima! Seu cartão postal são as torres construídas por famílias ricas, a fim de exibir seu poder e influência. É possível subir em uma delas, a Torre Grossa, para apreciar a vista do povoado e dos vinhedos. Visite a Piazza del Duomo e a Piazza della Cisterna. A Gelateria di Piazza, sorveteria que já recebeu prêmios mundiais, é parada obrigatória.

A lindíssima Volterra é um dos mais belos lugares da Toscana. A pequenina é um lugar de fábulas. Não é à toa que foi escolhida por Stephenie Meyer, autora da famosa saga "Crepúsculo", como um dos cenários de seu livro "Lua Nova". Passeie pelas ruas agradáveis de Volterra, aprecie a "fortezza" e a Piazza dei Priori. Não aguenta o calor do verão toscano? A gelateria Chic & Shock ameniza o problema, com sorvetes tão bons quanto os de San Gimignano.

Em Lucca, a caminhada de 4 km sobre as muralhas é muito agradável. Outra opção é alugar uma bicicleta. A bela catedral (San Martino) vale a visita, além da Piazza Anfiteatro e da Piazza Napoleone. Para quem tem interesse no assunto, o Museo Paolo Cresci conta a história da emigração italiana e exibe documentos e fotos muito interessantes.

Outros lugares a serem visitados na Toscana são Viareggio (próxima a Lucca) e suas belas construções, Pienza e seu delicioso queijo pecorino e Monteriggioni, vilarejo muito pitoresco perto de Siena.

A charmosa e pacata Assisi, na região da Úmbria, é terra natal de São Francisco. Oferece, como principais atrativos, a Basilica di San Francesco e o castelo, onde há um museu e um mirante, do qual se pode ver toda Assisi. A mesma dica de sempre vale também para esta pérola: desvendar as ruas da cidade. Uma característica positiva de Assisi é que a religiosidade ali ainda não foi explorada através do turismo: a entrada é livre em todas as igrejas e o silêncio é respeitado. Assisi não virou comercial como tantos outros lugares de turismo religioso.

Para comer, não faltam opções de bares e restaurantes na Piazza del Comune, mas fique atento: após as 22h torna-se difícil encontrar um lugar aberto. Assisi à noite é um paradeiro!

Tanto Assisi quanto Volterra e Monteriggioni apresentam anualmente suas festas medievais. Esse incrível tipo de manifestação nos faz entrar em harmonia com o estilo arquitetônico e a história dessas cidades. Conhecer Assisi e a Toscana é como voltar no tempo e sentir-se em outro mundo, fascinante e inspirador.

domingo, 12 de setembro de 2010

Arriva il Palio!


Os cavalos fazem parte da lenda da fundação de Siena e da origem de sua bandeira. São animais amados pelo povo senese. Um senese jamais comeria carne de cavalo, e é proibido seu uso como animal de carga – apenas em práticas esportivas. São eles os protagonistas da maior festa da cidade - e uma das mais importantes de toda a Itália - o Palio. Essa famosa corrida de cavalos de Siena remonta ao século XVI, porém, somente no século XVIII, passou a ser organizada da forma como se conhece hoje. Nesta competição, disputam 10 das 17 contradas da cidade. Destas 10, 7 são as que não disputaram no ano anterior. As outras 3 são sorteadas.

O Palio ocorre duas vezes ao ano: 2 de julho e 16 de agosto. O primeiro é dedicado a Santa Maria di Provenzano. O segundo, a Santa Maria Assunta. Antigamente, a corrida se realizava nas ruas do centro histórico. Hoje, o cenário é a Piazza del Campo. A corrida acontece ao redor da piazza e pode ser assistida das arquibancadas (que custam em torno de 200 euros por pessoa) ou do meio da praça, grátis. São 4 dias de festa. O primeiro evento é o sorteio dos cavalos na Piazza del Campo. Os proprietários dos cavalos que correm durante o Palio não são pagos por isto: para eles, é uma honra que seus cavalos possam participar do Palio. Nos dias que antecedem a corrida, ocorrem 5 provas na praça, e a mais bonita é a Prova Generale, que acontece na véspera do grande dia. Após esta prova, cada contrada realiza um jantar especial (evento de difícil acesso a turistas). No dia do Palio, cada cavalo recebe a benção na igreja da sua contrada. Mais tarde, ocorre o cortejo histórico e, finalmente, a corrida. Vale a pena assistir a alguma das provas para compreender como funciona o Palio, especialmente quando se decide vê-lo do meio da praça – no dia da corrida, a multidão na piazza pode impedir que se tenha uma boa visão do evento.

O cortejo histórico é tão emocionante quanto a corrida. É um belíssimo espetáculo em que centenas de pessoas de todas as contradas (mesmo as que não participam do Palio naquele ano), fantasiadas em estilo medieval, desfilam pela Piazza del Campo, com seus tambores e cantos. As fantasias são deslumbrantes, muito bem elaboradas e confeccionadas a cada, em média, 25 anos. A melodia do Palio é a mesma para todas as contradas, apenas a letra é adaptada.

Os cavalos dão três voltas na praça e a corrida não leva mais de 2 minutos. A contradição do Palio é que os "fantini" - como são chamados os jóqueis - não são de Siena. A maioria é da Sardegna, pois os sardi são normalmente pequenos e, portanto, leves e adequados para correr o Palio. Eles são contratados pelas contradas e, por serem de fora, são facilmente corruptíveis. Acontece frequentemente de uma contrada pagar uma boa quantia aos fantini para que eles não vençam a corrida. É um paradoxo que o fantino seja alheio a toda a emoção do Palio e à paixão dos sieneses. É interessante observar também que o cavalo é o herói do evento - se o fantino cair do cavalo, o animal, ainda assim, poderá vencer a corrida.

Após o resultado, a contrada vencedora faz o agradecimento na igreja à qual é dedicado o Palio, desfila pelo centro histórico e festeja por toda a noite no seu bairro. Excepcionalmente nessa ocasião, o museu da contrada é aberto e a entrada é livre. Mas a festa não acaba aí: a contrada que vence festeja o ano inteiro, até a chegada do Palio do ano seguinte.

A paixão dos sieneses por suas contradas é contagiante e faz com que se mantenham vivas as tradições do passado. As festas de contrada, o Palio, as canções, nada é espetáculo para turistas. Os sieneses não ganham dinheiro com o Palio, pelo contrário, eles gastam – e muito! O único auxílio da prefeitura é referente à montagem da estrutura da praça. Tudo é bancado pelos contradaioli: os jantares, as festas, o pagamento do fantino e o veterinário que, durante os dias que antecedem o Palio, acompanha o cavalo (cada contrada contrata um veterinário disponível 24 horas durante 4 dias). Certamente, os turistas que vem ao Palio trazem dinheiro a Siena, mas não é este o objetivo do evento. Nós, turistas, somos meros figurantes. Esta é a festa deles.

Le contrade di Siena


Os bairros tradicionais da cidade de Siena são chamados contradas. Mas a palavra "bairro" não define em sua totalidade o significado de uma contrada. Ela é mais que isso: é uma identidade. Pertencer a uma contrada para os sieneses é como pertencer a um time de futebol para os brasileiros – ou melhor, é como torcer pelo Brasil na Copa do Mundo. Diferente de um esporte, em que cada um escolhe seu time, é o nascimento que define a contrada dos sieneses. Se a pessoa nasce em determinada contrada, ela pertencerá a vida inteira àquela contrada, independente da contrada de seus pais ou seus irmãos. Os sieneses costumam ter duas famílias: aquela de sangue e os amigos da contrada. A contrada é uma comunidade onde todos se cuidam, se ajudam e se respeitam. Desde pequenos, eles aprendem a valorizá-la e amá-la, e ajudam nas tarefas da contrada. Cada contrada é como uma instituição: tem a sua bandeira, sua própria igreja, seu museu e uma certa independência.

As contradas disputam anualmente o Palio (corrida de cavalos que acontece em Siena) e, semanas antes do evento, seus integrantes desfilam pelas ruas de Siena em clima de festa, com suas belas vestes peculiares. Nesses domingos, acontecem os "batizados de contrada", que não tem relação alguma com um batizado religioso: são a confirmação de que a criança pertence a determinada contrada. Os pais, orgulhosos, desfilam com seus bebês nos carrinhos, atrás da banda e dos rapazes que tocam tambores e carregam a bandeira da contrada. Junto aos pais e às crianças, caminham os outros "contradaioli" (pessoas que pertencem àquela contrada). Todos amam a contrada (crianças, adolescentes, adultos e idosos) e cantam juntos sua canção.

Durante a semana do Palio, muitas famílias se separam para ajudar com as atividades de suas próprias contradas e - "dizem as más línguas" - acontece frequentemente de casais "pularem a cerca" nessa época do ano. Mas as atividades de contrada também trazem bons frutos: são uma ótima oportunidade de trabalho para os idosos e os aposentados, pois trabalho é o que não falta em uma contrada, durante o ano inteiro. Como os mais jovens nem sempre estão disponíveis, por conta de suas profissões, os mais velhos são sempre ativos na contrada. Talvez por isso os "velhinhos" de Siena sejam tão amorosos e pareçam tão felizes.

Siena, no passado, chegou a possuir 42 contradas. Hoje, restam apenas 17, quase todas com nomes de animais: Aquila (águia), Chiocciola (caracol), Pantera, Tartuca (tartaruga), Civetta (coruja), Leocorno (unicórnio), Giraffa, Istrice (porco-espinho), Drago (dragão), Lupa (loba), Oca (ganso), Bruco (lagarta), Montone (carneiro), Nicchio (concha de molusco), Torre, Selva e Onda.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Bella Siena


Passear em Siena é sentir-se em um filme de época. A cidadezinha de (cerca) 55 mil habitantes é constituída de ladeiras íngremes, ruas estreitas, piso de pedra e construções antigas, que preservam o marrom dos tijolos. Os sieneses amam Siena e cuidam de sua cidade da melhor forma possível.

O coração da cidade é a Piazza del Campo. Esta praça em formato de semi-círculo abriga o belo Palazzo Pubblico (onde está o Museo Civico), com sua Torre del Mangia. Vale a pena subir na torre para ter uma linda visão de toda a cidade. Também vale a visita à Piazza del Duomo, onde se pode comprar um bilhete para conhecer esta catedral, sua cripta, o Museo dell'Opera del Duomo e Santa Maria della Scala. Do terraço do Museo dell'Opera del Duomo é possível ver um belo panorama da cidade, não tão alto quanto o da Torre del Mangia, porém. O bilhete combinado inclui também o pequeno Museo Diocesano, no Oratorio di San Bernardino, na tranquila Piazza di San Francesco, onde está a igreja de mesmo nome.

A Fortezza é outro ponto interessante para se visitar. O forte possui lindas flores, uma bela vista e uma enoteca. É também o lugar escolhido pelos sieneses para se exercitarem, por ser fresco, ao abrigo da sombra das árvores. Durante o verão, ocorrem sessões de cinema ao ar livre na Fortezza. Não há nada mais agradável que assistir a um filme e, ao mesmo tempo, ter a possibilidade de ver estrelas cadentes.

O restaurante La Taverna di San Giuseppe não pode faltar em sua lista. O atendimento é de primeira e a comida, deliciosa! O prato de gnocchetti com ricota, queijo pecorino e espinafre me fez sentir como Liz Gilbert, em seu livro "Comer, Rezar e Amar", ao comer uma pizza transcendental em Napoli. O restaurante Le Logge também é muito bom, porém menos em conta, e a qualidade é a mesma. Em ambos, é aconselhável fazer reserva. O bar Il Pulcino é outra boa pedida: serve massas muito boas a "preço de banana". O queijo pecorino com mel também é de qualidade. Outra opção econômica é a Tratoria Fonte Giusta – os secondi piatti (pratos de carne) são bons e baratos.

A noite de Siena pode ser desfrutada em alguns pubs, como o Bella Vista Social Pub, cujo barman "Totò" é bastante receptivo. O ambiente possui uma decoração singular e os clientes podem deixar mensagens nas paredes. Mas a maioria dos senesi gosta mesmo é da Piazza del Campo, com seus bares e restaurantes (tomar um drink na varanda do pub San Paolo, de frente para o Palazzo Pubblico, é um programa imperdível!) ou preferem, simplesmente, sentar-se no centro da praça na companhia de amigos e de um bom vinho. Tenho de concordar com eles.

Quem vem no verão pode curtir também jantares e festas nas contradas (como são chamados os bairros do centro histórico), sempre ao ar livre, numa atmosfera muito agradável, além de shows de jazz em diversas partes da cidade.

Tão gostoso quanto tudo isso é caminhar sem rumo desvendando os muros e as ruelas de Siena – como o Vicolo delle Carrozze, a Via della Galluzza e a Via di Santa Caterina (cujo nome é referente à santa mais amada de Siena). A beleza da cidade é justamente sua irregularidade e suas vias aconchegantes. Por trás de cada curva, existe uma surpresa.

domingo, 4 de julho de 2010

Breve história de Siena, Itália



Só há documentação sobre a história de Siena, linda cidade medieval na Toscana, a partir de 70 d.C., portanto sua origem é contada através da lenda dos irmãos Rômulo e Remo. Os filhos de Remo (Aschio e Seno) teriam fundado a cidade após fugirem do tio, Rômulo, que pretendia assassiná-los, após ter assassinado Remo. Os irmãos conseguiram fugir graças à ajuda do Deus Apolo, que lhes enviou dois cavalos mágicos. Fugiram para o norte, pois o sul estava ocupado pelos gregos, e fundaram Siena, cujo nome se origina de Senio. Para honrar o Deus Apolo, eles sacrifiram os cavalos mágicos. Os corpos dos cavalos, ao serem queimados, geraram duas nuvens de fumaça, um preta e uma branca, que deram origem à bandeira de Siena. Em função desta lenda, em Siena, assim como em Roma, encontram-se diversas esculturas da famosa loba amamentando os gêmeos Rômulo e Remo. A cidade – e muitas de suas vizinhas na Toscana – foi, durante um longo período, dominada pelos etruscos e, posteriormente, pela família Medici.

Siena tornou-se notável após a construção, pelos franceses, da rodovia chamada Via Francigena. A cidade passou a funcionar como "stazione di posta", local onde os viajantes que levavam as correspondências montados a cavalo paravam para susbstituir os animais. Devido ao grande número de viajantes que passavam por Siena em direção a Roma, iniciou-se na cidade o serviço de câmbio – primeiro, nas bancas dos mercados; em seguida, em casas específicas para esse serviço, que passaram a ser chamadas de bancos. A burguesia de Siena prosperou muito com tal atividade e (para a nossa surpresa) já naquela época era possível viajar com uma "lettera di cambio", o que hoje chamamos de traveller's check. O Monte dei Paschi di Siena, que funciona atualmente, foi o primeiro banco do mundo ocidental.

Entre 1100 e 1250, Siena vivenciou uma explosão demográfica e chegou a possuir 60 000 habitantes (população ligeiramente maior que a atual), pois neste período não houve epidemias ou guerras. A partir de 1260, começaram as guerras contra Florença, visto que ambas eram cidades muito influentes e próximas. Houve um intervalo entre as guerras com o surgimento da Peste Negra, em 1348. A epidemia durou 4 anos e Siena perdeu 67% de sua população. A partir de então, a cidade entrou em crise. Esta queda drástica da população se deu pelo fato de Siena ser desprovida de fontes de água. Os cadáveres não podiam ser queimados, sob o risco de que ocorressem incêndios e não houvesse água suficiente para apagá-los. Eram, então, enterrados, o que não impedia a proliferação da doença. Já em Florença, a Peste Negra não causou tamanho impacto, pois a cidade é banhada pelo rio Arno.

Esse passado turbulento repercute ainda hoje: os sieneses não simpatizam com os florentinos. Felizmente, o passado de Siena é refletido também em suas belíssimas construções, muito bem conservadas, e no espírito do povo senese, que sustenta um grande orgulho pela sua história e alimenta tradições antigas, como a famosa corrida de cavalos anual, o Palio. 

segunda-feira, 3 de maio de 2010

"Land of Scots"


A terra de William Wallace, Sir Arthur Conan Doyle, Sir Walter Scott, dentre outros famosos, além de carregar uma história riquíssima, tem paisagens de tirar o fôlego! Quem vai à Escócia viaja no tempo e vive um conto de fadas. Não tem como não se apaixonar pelos seus castelos, lagos, pela sua história, pelo seu verde sem igual.

EDINBURGH

A capital, Edimburgo, possui em torno de 470.000 habitantes. Sua tonalidade é uniforme, um marrom-acinzentado dos edifícios em estilo gregoriano, que só é quebrado pelo verde concentrado nos parques.

O imponente castelo (Edinburgh Castle), situado sobre um morro, é aberto a visitas. Dentro dele encontram-se vários museus. O castelo é uma das paisagens mais belas da cidade, e o melhor ângulo para vê-lo é da Princess Street ou do parque chamado Princess Street Gardens (Jardins da Princess Street). Este é um dos parques mais agradáveis de Edimburgo, onde se passeia ao lado das gaivotas que esperam por migalhas dos transeuntes. Todo o tipo de gente se encontra no Princess Street Gardens e, nos dias de sol, ele fica repleto de escoceses, que procuram tirar o máximo de proveito desses dias incomuns em que Edimburgo apresenta céu aberto.

Outro lugar belíssimo é o Holyrood Park, ou Queen's Park. Quem sobe até o topo do morro tem uma linda vista da cidade e pode ver o mar. O pitoresco lago Dunsapie (Dunsapie Loch), junto com seus cisnes, também deve ser visitado. Para os que preferem os esquilos, basta ir aos Jardins Botânicos (Botanic Gardens) e alimentá-los.

A cidade não chega a ser cosmopolita como outras capitais européias, mas se vê muitos imigrantes, especialmente asiáticos. Em quase todas as bancas de revistas os atendentes são estrangeiros, geralmente paquistaneses. Também há muitos indianos na cidade, característica de todo o Reino Unido.

Os escoceses são comunicativos e seu senso de humor faz com que sejam mais simpáticos que seus vizinhos ingleses. Puxam conversa com estranhos e são festeiros. Nas boates, gostam de se fantasiar, especialmente nas despedidas de solteiro, algo muito comum entre eles. A vantagem de sair para dançar em Edimburgo é que algumas discotecas não cobram entrada: o cliente só paga o que consumir, portanto é possível sair de uma boate com bom som e vários ambientes (como a “Espionage”) sem ter gasto um tostão – ou melhor, one pound.

Para quem gosta dos pubs, não faltam opções. No “The Mitre”, há música ao vivo de qualidade. As sobremesas do “The Albanach” são de dar água na boca. Quem vai à Escócia tem que experimentar o Sticky Toffee Pudding (um bolinho quente de caramelo servido com sorvete de creme), sobremesa típica do Reino Unido. Também não pode deixar de experimentar o Haggis, prato típico escocês feito com miúdos de carneiro.

Por fim, o pub “Sandy Bell's” é indicado a quem procura algo mais tradicional. É um pequeno pub freqüentado por escoceses. Não se vê muitos turistas e frequentemente há grupos que tocam folk music, música tradicional escocesa. Vale a pena também dar uma passada no “The Lot”, bar onde se aprende a dançar o Ceilidh, dança típica escocesa.

A maioria dos bares mencionados localiza-se na Royal Mile, que faz parte da chamada Old Town (Cidade Antiga). Ao caminhar por esse lado mais antigo da cidade, é comum ver artistas de todos os tipos, inclusive gente tocando harpa em troca de moedas.

A famosa gaita de foles (bagpipe) é escutada por todos os cantos da cidade, seja nas lojas que vendem souvenirs ou através dos músicos que a tocam nas ruas para ganhar algum dinheiro dos turistas. Eles se caracterizam com o típico traje escocês, composto pelo kilt, como é chamada a saia xadrez vestida pelos homens (também existem modelos de kilt femininos, mais curtos). Quem espera chegar à Escócia e se deparar com diversos habitantes do sexo masculino vestindo o kilt vai se decepcionar. É um traje muito caro que não se usa no dia-a-dia, mas em ocasiões especiais, como casamentos, por exemplo. De qualquer maneira, existem muitos pipers (tocadores de gaita de foles) exibindo o kilt para os visitantes.

O principal evento de Edimburgo é a “Military Tattoo”. Nesta apresentação anual, bandas militares da Escócia e de diversos países tocam gaita de foles (dentre outros instrumentos) na esplanada do castelo. O evento é um espetáculo, também enriquecido por dançarinos e cantores, e o majestoso castelo irradia-se de luzes coloridas e imagens refletidas sobre ele. Para assistir ao evento, que ocorre em agosto, é preciso comprar com antecedência o ingresso para a arquibancada. Os preços variam conforme a localização dos assentos.

A Military Tattoo faz parte do Edinburgh Festival (Festival de Edimburgo), que inicia em agosto e dura aproximadamente um mês. O festival oferece espetáculos de música, dança, arte circense e teatro. Neste período, a Royal Mile fica repleta de turistas e artistas que trazem alegria à cidade.

Para os que desejam ter uma visão geral da cidade de Edimburgo, vale a pena tomar um dos ônibus que fazem tours pela cidade, como o Edinburgh Sightseeing, que custam em torno de 10 libras. Um passeio também rápido é o da cidadezinha de Roslin, onde se visita sua igreja - a Rosslyn Chapel - e o pequeno, mas belo castelo de Roslin, com algumas partes em ruínas.

A organização dos meios de transporte é impressionante. A mais nova opção serão os metrôs de superfície, ainda em construção. Os ônibus têm horários frequentes (durante o dia, os intervalos para os ônibus de uma mesma rota passarem nos pontos podem levar de 9 a 15 minutos, no máximo 30) e cada ponto de ônibus tem um nome, o que facilita a localização. À noite, os intervalos são maiores, mas grande parte dos ônibus circula até alta madrugada. A liberdade de poder caminhar pelas ruas a qualquer hora e pegar ônibus de madrugada com segurança talvez seja o mais fantástico de tudo.

Em Edimburgo, os turistas dispõem de um Centro de Informações Turísticas mais que eficiente. Fica localizado na Princess Street e possui vários atendentes que realizam todo o tipo de serviço: vendem ingressos para eventos, vendem excursões das agências (caso o turista esteja hospedado próximo ao centro de informações turísticas, é mais vantajoso dirigir-se até lá do que à própria agência pela qual viajará) e fornecem todo o tipo de informações.
                                                     

HIGHLANDS

As excursões oferecidas pelas agências de turismo costumam ter como destino as Highlands (“terras altas”), região mais bonita da Escócia, onde estão as montanhas mais altas e a natureza mais bela. No extremo norte das Highlands, ainda existem pessoas que não falam Inglês, e sim o Gaélico, segunda língua viva mais antiga do mundo (a primeira é a Língua Basca). Cerca de 60.000 pessoas falam Gaélico na Escócia.

Nas Highlands, é possível conhecer a paisagem da região de Glen Coe, Ben Nevis (o ponto mais alto do Reino Unido - 1344 metros) e, dentre outros lagos, o Lago Ness – o maior da Escócia e, segundo a lenda, habitat de “Nessie”, o famoso “monstro do Lago Ness”. Deve-se visitar também o belo Eilean Donan Castle, castelo que já foi cenário de alguns filmes, como “O Melhor Amigo da Noiva” (Made of Honor). As graciosas vacas peludas características da região também merecem fotos.

Isle of Skye

A ilha de Skye, localizada no noroeste da Escócia, é um dos destinos mais incríveis das Highlands. Sua cidade base é Portree, onde existem algumas pousadas e também a opção de B&B (Bed and Breakfast - traduzido para o Português, “cama e café da manhã”).

Os mais belos pontos de Skye são Kilt Rock - de onde se tem a paisagem deslumbrante de uma cachoeira que cai dos rochedos sobre o mar - e Neist Point, o extremo oeste da ilha, junto com seu farol.

Dunnottar Castle

As ruínas deste castelo, próximas à cidade de Aberdeen, não estão entre os principais circuitos turísticos da região das Highlands, mas, para quem tem um pouco mais de tempo, vale a pena visitá-las, pela sua paisagem: encontram-se num rochedo sobre o mar, formando uma visão magnífica. O castelo foi agraciado com a presença de personagens como William Wallace e “Mary Queen of Scots”.

Para quem curte a natureza, para quem gosta de história ou para aqueles que apreciam um bom Scotch Whisky, aye, a “Land of Scots” é fascinante! Não hesite em colocá-la em sua lista de destinos. Só não se esqueça de levar um guarda-chuva, pois a imprevisibilidade do tempo ali é tão marcante quanto os encantos dessa terrinha.

domingo, 11 de abril de 2010

I Amsterdam


Amsterdã, cidade da liberdade, da juventude, das bicicletas, cidade do mundo todo. Na capital da Holanda, encontram-se os tipos mais excêntricos possíveis, motivados pela ousadia de um país que provou ao mundo que pode ser permissivo sem ser caótico.

Quem caminha pelo centro de Amsterdã, no período do verão, não consegue distinguir os holandeses dos estrangeiros. A cidade fica tão abarrotada de turistas, unidos aos imigrantes, que se torna um festival de culturas. A “caça” aos holandeses tampouco é facilitada pela língua, já que quase todos sabem falar Inglês e o fazem constantemente nessa época do ápice do turismo.

Em Amsterdã, o visitante entra em contato com pedacinhos de cada nação do mundo ao, por exemplo, entrar num táxi cujo motorista é asiático, almoçar num restaurante argentino (eles são abundantes na cidade) e curtir a noite num bar brasileiro. Para quem passa pouco tempo na cidade, torna-se difícil encontrar sua identidade cultural, o que é um ponto negativo - mas nem por isso Amsterdã deixa de ser encantadora.

Um bairro curioso de Amsterdã é o da Luz Vermelha. Seu nome é seu próprio retrato, pois, à noite, esta é a coloração da maior parte dos estabelecimentos do local. Na Luz Vermelha, encontram-se prostitutas que se expõem em vitrines – não tente fotografá-las, é proibido. É também neste bairro que está localizado o Museu Erótico, além de inúmeros sex shops com os mais variados artigos possíveis. Há ainda cinema erótico e, para espanto de quem não está acostumado, existem também casas de espetáculo que exibem shows de sexo explícito. Nada, porém, é mais surpreendente que a medida adotada pelas autoridades, em 2008, de liberar o sexo ao ar livre no Voldenpark (com algumas limitações).

O país é também polêmico pela legalização das drogas consideradas leves, tais como maconha e cogumelos alucinógenos. Os coffeeshops possuem nomes bastante sugestivos - como “Happy Feelings” e “The Best Extase” – e dispõem de cardápios exclusivos para a compra da “marijuana”.

Essa liberdade característica da Holanda, no entanto, nunca trouxe desordem e violência ao país. Ali reinam o respeito e a tolerância. Exemplo disto é o fato de o país ter sido o primeiro a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. 

Além disso, Amsterdã inspira muito mais que drogas e sexo. É uma cidade linda, florida, aconchegante e de arquitetura graciosa; uma capital com ares de cidade de interior, porém com o desenvolvimento de uma grande metrópole.

As bicicletas são tantas que assustam o pedestre, e suas pistas têm mais espaço que as calçadas. Uma boa opção para quem quer passear por Amsterdã é alugar uma bicicleta. Outro passeio imperdível é o city tour de barco pelos canais, passando por baixo das pequenas pontes e ao lado das belas casas-barco (com direito a parada no sinal vermelho do semáforo para as embarcações). Há ainda o city tour realizado em ônibus, mas que não se compara ao passeio de barco.

Para comer, não faltam opções: restaurantes de várias nacionalidades, bares, cafés e, principalmente, panquecas. Amsterdã é a cidade das panquecas! Doces ou salgadas, elas estão por toda a parte.

Um conselho aos turistas que vão a Amsterdã no verão: pesquisem sobre a cidade antes de ir e elaborem seu roteiro, pois os pequenos e desorganizados postos de informações turísticas apresentam filas enormes.

Além dos city tours, alguns lugares para se visitar são o Mercado das Flores, o Museu do Diamante (a indústria de lapidação de diamantes é muito forte na Holanda), o Van Gogh Museum, o Madame Tussauds (museu de cera existente também em Londres) e a casa de Anne Frank, a garota judia que permaneceu escondida, por dois anos, no escritório do pai, junto com a família, durante a Segunda Guerra Mundial. Seu diário é famoso no mundo inteiro e sua história, comovente.

Ao final de tudo, não tem para onde correr: seja você puritano, liberal, jovem ou da Melhor Idade, vai terminar por ceder aos encantos desta cidade tão linda e interessante. Ao sentar-se confortavelmente (ou “espremidamente”) na poltrona do avião, no retorno à sua terra de origem, vai perceber que, junto com os outros turistas, estará vestindo a típica camiseta em que está escrito “I Amsterdam”.

sábado, 6 de março de 2010

International World Changers – Turismo social no Subúrbio Ferroviário de Salvador

A área da capital baiana denominada “Subúrbio Ferroviário” é composta por 19 bairros populares e tem esse nome em decorrência do sistema de trens que os serve, partindo do bairro de Calçada até Paripe. O subúrbio “acolhe” em torno de 500 mil habitantes e é grande o número de pessoas que vivem em barracos ou sobre palafitas. Possui ainda um nível de escolaridade baixíssimo e destaca-se pelos elevados índices de mortalidade infantil e de homicídios. Para completar, é notável a carência nos ramos de saúde e infra-estrutura para a população.

O Subúrbio Ferroviário, entretanto, tem também seu lado positivo: as riquezas naturais e culturais que o compõem. O passeio de trem, desconhecido pelos turistas, utilizado praticamente para deslocamento dos habitantes da região, é rico em belíssimas paisagens da Baía de Todos os Santos, com praias paradisíacas de areia branca e águas tranqüilas, freqüentadas apenas por pescadores. Além disso, no trajeto são vistas ruínas de casarões ou fábricas que retratam a história de Salvador. Em Lobato, por exemplo - um dos bairros do percurso - foi descoberto o primeiro poço de petróleo do país.

Segundo os repórteres George Brito e Mariana Monteiro, no subúrbio pode-se “ver as marisqueiras catando siris na maré baixa, bater um papo com um senhor sentado no cais jogando dominó e, se sentir sede, é possível até beber um copo d´água, oferecido por um dos moradores.”. “Nas paradas é possível conhecer Salvador sem a ‘maquiagem’ dos pontos turísticos tradicionais. Aqui o visitante entra em contato com a vida real das pessoas.”.

É neste cenário que todo ano aparecem missionários religiosos norte-americanos que, com o objetivo de evangelizar a população carente desses bairros, terminam por conhecer a beleza e pobreza da região. Exemplo disto são os grupos da IWC – International World Changers (Transformadores Internacionais do Mundo), uma organização religiosa norte-americana que envia fiéis da Igreja Batista a outros países para pregarem suas crenças e fornecerem suporte a famílias carentes. Esse tipo de “turismo social” contribui, mesmo que em parcela pouco significativa, para o turismo na capital e a melhoria da qualidade de vida da população suburbana. Para o turismo - diretamente - os World Changers trazem recursos ao contratarem mão-de-obra, transporte e ao visitarem as lojas e pontos turísticos da cidade. De maneira mais profunda, contribuem também para atenuar a miséria do Subúrbio.

Em Salvador, os integrantes da IWC contam com o apoio da Igreja da Praia e da ONG Metamorfose. Visitam principalmente os bairros de Plataforma e Paripe. São jovens - em sua maioria - e adultos que se instalam num retiro no bairro de Plataforma, onde qualquer ser humano que curta uma bela vista, natureza e paz gostaria de estar. Eles vêm normalmente no período do inverno e se dividem em grupos para a realização de duas tarefas: pregar o Evangelho em escolas públicas e construir casas para famílias carentes. Para isto, contratam, a cada ano, em média 30 jovens intérpretes de Salvador, em geral não-profissionais. As casas são construídas pelos próprios americanos. Os integrantes da IWC já vêm com todo o material e o preparo para lidar com construção e para se apresentar nas escolas. São muito bem organizados e passam, ao todo (entre um grupo e outro que chega, de aproximadamente 70 americanos cada), um tempo estimado de um mês na capital baiana.

Nas escolas, trabalham com apresentações de fantoches, peças teatrais, palestras e testemunhos. Ao final de cada apresentação, pedem aos alunos que realmente tenham “aceito Jesus dentro de seu coração” que escrevam seus nomes numa lista. Esta lista será a de estudantes que receberão ajuda financeira dos World Changers e, possivelmente, obterão moradia digna, caso não a possuam.

Tendo se “convertido” ou não naqueles 30 minutos, cada aluno ganha um kit com escova de dente, lápis, borracha e livretos contando histórias da bíblia. Independente dos métodos de ensino da IWC e independente de religião, a alegria no rosto das crianças por estarem sendo lembradas compensa o trabalho. Não adianta apenas doar fundos às instituições: a parte humana, a presença física é tão importante quanto a ajuda financeira. Esta ação representa para as crianças a mensagem de que “nós estamos aqui e sabemos que vocês existem”. Ainda que seja uma medida isolada, este ato anual pode ajudar a diminuir a marginalidade da população suburbana. Radicais ou não, os World Changers fazem sua parte.

Massarandupió – BA: paraíso naturista

Existem controvérsias quanto à origem da palavra “Massarandupió”. Alguns afirmam que uma tribo já extinta de índios conhecidos como Massarandupiós deu nome ao povoado. Outros contam que havia na região um tipo de árvore denominada maçaranduba, cujo fruto não era de qualidade e, portanto, passaram a chamá-la “maçaranduba pior”, que transformou-se em massarandupió, e assim foi nomeado o distrito.

Massarandupió é um pequeno povoado pertencente ao município de Entre Rios. Sua entrada está localizada no km 88 da Linha Verde, rodovia que liga Salvador a Aracaju, e deve-se seguir mais 5 km de estrada de terra até o início da vila. A fama de Massarandupió se dá pelas suas belezas naturais: rio, dunas alvíssimas, coqueiros e a praia ampla, com uma área reservada para o naturismo.

A sensação que se tem, logo que se chega à vila, é de paz. Mais adiante, a paisagem da praia deserta unida ao rio e dunas é extasiante. O melhor é que tudo isto pode ser desfrutado em meio à tranqüilidade de um lugar em que os autóctones são um espelho da paisagem: sossegados, pacíficos. O distrito é o tipo de lugar onde as crianças se juntam e fazem “pedágio” na pequena ponte sobre um riacho a caminho da praia, a fim de arrecadar fundos para a festa de Dia das Crianças. Um lugar onde os moradores se reúnem para fazer samba-de-roda e onde os cães correm latindo atrás dos carros; lugar onde “seu Zé”, um senhor muito simpático, dono de um bar próximo à entrada principal da praia, permite que os turistas acampem em seu terreno, sem lhes cobrar absolutamente nada.

Massarandupió está dentro da ZPR (Zona de Proteção Ambiental Rigorosa) da APA do Litoral Norte da Bahia. Ademais, o local é área de desova de tartarugas marinhas, o que implica na proibição do tráfego de veículos e iluminação na praia. O Projeto TAMAR acompanha os ninhos existentes e o nascimento das tartarugas. Quando há crianças na praia, os integrantes do projeto incentivam-nas a colaborar com o processo de auxiliar os filhotes a chegarem ao mar, o que estimula, desde cedo, a consciência ecológica da população.

A praia localiza-se a 2 quilômetros de estrada de terra de distância da vila. Seus 8 km de extensão dividem-se, por uma simples placa fincada na areia, em praia naturista e não-naturista. Entre as duas fileiras de dunas, está o rio Massarandupió, de águas mornas e ferruginosas.

A praia naturista de Massarandupió foi fundada em 1995 e reconhecida pelas autoridades em 1997. Estende-se por 2 km e, nos primeiros 200 metros, as mulheres podem permanecer de topless. Os homens, no entanto, devem despir-se completamente desde a entrada na praia. A maioria dos freqüentadores são famílias e casais de idades variadas e os únicos vestidos no local são os garçons e garçonetes das barracas. Homens desacompanhados não entram, porém para as mulheres não há restrições. O rio, situado logo atrás da primeira fileira de dunas, é também aproveitado para o naturismo (dentro dos limites da reserva naturista). Deve-se estar atento ao fato de que o estacionamento da reserva naturista não faz parte da área de nudismo.

A chegada do naturismo a Massarandupió fez crescer consideravelmente o número de turistas no povoado - até então praticamente desconhecido – e de serviços, conseqüentemente, tais como alimentação e alojamento. O ápice do movimento acontece no verão. Nessa época do ano, ocorrem várias atividades organizadas, como luais e o Reveillon, dos quais todos participam nus. Outros eventos que ocorrem no distrito são a festa de Dia das Crianças, 7 de Setembro (Fanfarra de Massarandupió), Festa de Reis, Lavagem da Igreja, Semana do Meio Ambiente e o Carnaval.

Apesar da novidade naturista para o pessoal de “mente aberta”, Massarandupió não sofre os impactos do turismo de massa, o que conserva o seu charme. O povoado permanece tranqüilo ao longo do ano, pois mesmo o movimento no verão ainda não é suficiente para incomodar quem o visita e quem ali vive. Isto se deve à falta de divulgação e à falta de estrutura do distrito, que, apesar de contribuir para que a essência do lugar não seja modificada, também tem seu lado negativo: não há variedade de serviços, apesar de eles terem se expandido com a chegada do naturismo; não existem campings no povoado – os turistas são obrigados a fazer as necessidades biológicas na natureza. É possível dirigir-se à praia naturista, num fim de semana qualquer e, às 16h, não encontrar um tiragosto sequer nas barracas. Além disso, nas barracas da praia não-naturista, não há sanitários, apenas mictórios. Massarandupió tampouco apresenta qualquer vida noturna: a população permanece em casa assistindo a novelas, as ruas são muito mal iluminadas e só se vê uns poucos habitantes do sexo masculino jogando sinuca e bebendo nos botecos.

Os habitantes de Massarandupió são muito bem organizados. A ADAM – Associação das Artesãs de Massarandupió – trabalha com encomendas para localidades próximas e também para o exterior (Frankfurt). Dentro da vila, funciona um stand para vendas a turistas. A maior demanda é a de encomendas, e as bolsas coloridas de palha são o produto mais vendido.

É interessante observar também o seu engajamento social e sua preocupação com o meio ambiente. Um exemplo disto é a ponte onde as crianças cobram “pedágio”: ela foi construída estreita para que nenhum ônibus de turismo possa chegar até a praia, dificultando, assim, o turismo de massa.

Outro grande exemplo da preocupação social da população é a AMAM – Associação dos Moradores e Amigos de Massarandupió. São realizadas reuniões para verificar as necessidades dos habitantes (educação, conservação ambiental etc) e suas propostas e reivindicações são encaminhadas ao poder público. A associação tem obtido resultados satisfatórios. A escolinha primária, por exemplo, é fruto de suas iniciativas.

Não obstante alguns pormenores já mencionados, Massarandupió é uma localidade digna de ser visitada. Ali, é possível aprender com os exemplos da comunidade e esquecer-se do mundo, pois não há preocupações com violência, horários e filas. “Massarandumelhó” é a prova de que não existe nada mais adequado para curar o estresse do que a terapia energizante da natureza.

Carnaval em Rio de Contas - BA

Rio de Contas, cidade mais antiga e também limite sul da Chapada Diamantina, começou a ser construída em 1723, após a descoberta do ouro na região. Seu patrimônio é bem conservado e 287 prédios são tombados pelo IPHAN, dentre eles o Teatro São Carlos - único da chapada. A natureza ao redor permite a realização de belos passeios por cachoeiras, trilhas, picos e comunidades.

Primeira cidade da chapada, Rio de Contas parece ter parado no tempo. Ali o turismo não se desenvolveu como nas cidades de Lençóis, Mucugê e seus arredores. Em Rio de Contas e em seu entorno, é possível bater um bom papo com os moradores e comer pratos deliciosos a preços baixos. Quem faz o passeio do Poço das Andorinhas, por exemplo - e, após passar por vilarejos pitorescos como Casas de Telha e Boa Vista, chega a Arapiranga - pode ter o prazer de almoçar dentro da casa de uma família e conhecer melhor seus hábitos. Ainda não existem a ganância e a indiferença trazidas, muitas vezes, pela atividade turística intensa. Os sorrisos são sinceros, não apenas estimulados por interesses comerciais.

No carnaval, essa tranqüilidade é quebrada, em função da quantidade de pessoas que visitam Rio de Contas. É previsível que, uma vez que o turismo não é tão forte no município, ele tenha um teor amador, e isto se acentua durante o período do carnaval. Faltam guias para acompanhar a demanda e as agências e guias de turismo não cumprem os horários combinados, devido ao grande número de passeios que se comprometem a realizar. Os pontos turísticos de acesso mais fácil, tais como a Cachoeira do Fraga e a Ponte do Coronel, ficam superlotados e repletos de poluição sonora. Ao menos, uma atitude louvável foi tomada: existem fiscais que recolhem o lixo das pessoas e não permitem que elas desçam à cachoeira com garrafas e latas.

A poluição sonora é sentida também dentro da cidade, pois em cada esquina há grupos de jovens e adolescentes, estudantes de cidades próximas, que alugam casas e passam o dia dançando ao som altíssimo dos seus carros ou das caixas de som que instalam sobre a própria calçada. Não há como evitar o barulho, pois eles realmente estão por toda a parte. A quem viaja para Rio de Contas com a intenção de desfrutar o sossego da cidade e os passeios turísticos ao redor, esse feriado não é aconselhável.

A partir da tarde, começa o carnaval rio contense, marcado por festa à fantasia, desfiles e concursos de máscaras e bonecos, baile infantil, desfile de baianas (do qual qualquer turista pode fazer parte) e shows nos dois palcos instalados na praça da matriz. Quem pensa que no carnaval de Rio de Contas só se escutam marchinhas está enganado: a festa é uma mistura de ritmos. No palco principal, a folia ocorre ao som de hits como “Rebolation” e “Lobo Mau (vou te comer)”. Já no palco alternativo, para os saudosistas, várias bandas de qualidade da cidade e da região tocam marchinhas e jovens e adultos vibram, fazem “trenzinho” e brincam ao som de um carnaval já quase esquecido nesse Brasil.

A festa é bonita, as pessoas têm o hábito de se fantasiar e não se vê uma briga. Há muitas famílias com crianças, casais e jovens solteiros. Apesar do tumulto e das dificuldades já mencionadas, vale a pena que cada um confira o carnaval de Rio de Contas e tire suas próprias conclusões.