Os cavalos fazem parte da lenda da fundação de Siena e da origem de sua bandeira. São animais amados pelo povo senese. Um senese jamais comeria carne de cavalo, e é proibido seu uso como animal de carga – apenas em práticas esportivas. São eles os protagonistas da maior festa da cidade - e uma das mais importantes de toda a Itália - o Palio. Essa famosa corrida de cavalos de Siena remonta ao século XVI, porém, somente no século XVIII, passou a ser organizada da forma como se conhece hoje. Nesta competição, disputam 10 das 17 contradas da cidade. Destas 10, 7 são as que não disputaram no ano anterior. As outras 3 são sorteadas.
O cortejo histórico é tão emocionante quanto a corrida. É um belíssimo espetáculo em que centenas de pessoas de todas as contradas (mesmo as que não participam do Palio naquele ano), fantasiadas em estilo medieval, desfilam pela Piazza del Campo, com seus tambores e cantos. As fantasias são deslumbrantes, muito bem elaboradas e confeccionadas a cada, em média, 25 anos. A melodia do Palio é a mesma para todas as contradas, apenas a letra é adaptada.
Os cavalos dão três voltas na praça e a corrida não leva mais de 2 minutos. A contradição do Palio é que os "fantini" - como são chamados os jóqueis - não são de Siena. A maioria é da Sardegna, pois os sardi são normalmente pequenos e, portanto, leves e adequados para correr o Palio. Eles são contratados pelas contradas e, por serem de fora, são facilmente corruptíveis. Acontece frequentemente de uma contrada pagar uma boa quantia aos fantini para que eles não vençam a corrida. É um paradoxo que o fantino seja alheio a toda a emoção do Palio e à paixão dos sieneses. É interessante observar também que o cavalo é o herói do evento - se o fantino cair do cavalo, o animal, ainda assim, poderá vencer a corrida.
Após o resultado, a contrada vencedora faz o agradecimento na igreja à qual é dedicado o Palio, desfila pelo centro histórico e festeja por toda a noite no seu bairro. Excepcionalmente nessa ocasião, o museu da contrada é aberto e a entrada é livre. Mas a festa não acaba aí: a contrada que vence festeja o ano inteiro, até a chegada do Palio do ano seguinte.
A paixão dos sieneses por suas contradas é contagiante e faz com que se mantenham vivas as tradições do passado. As festas de contrada, o Palio, as canções, nada é espetáculo para turistas. Os sieneses não ganham dinheiro com o Palio, pelo contrário, eles gastam – e muito! O único auxílio da prefeitura é referente à montagem da estrutura da praça. Tudo é bancado pelos contradaioli: os jantares, as festas, o pagamento do fantino e o veterinário que, durante os dias que antecedem o Palio, acompanha o cavalo (cada contrada contrata um veterinário disponível 24 horas durante 4 dias). Certamente, os turistas que vem ao Palio trazem dinheiro a Siena, mas não é este o objetivo do evento. Nós, turistas, somos meros figurantes. Esta é a festa deles.
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